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Mostrando postagens de 2020

Paulo Freire depois de junho de 2013

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  Em agosto de 2016, em uma entrevista para a revista Caros Amigos , às vésperas de sofrer definitivamente o impeachment , ao ser perguntada sobre o marco de junho de 2013 para a virada direitista no país, a presidenta Dilma Rousseff (2016, p. 16) foi bastante cautelosa: “Não acho que 2013 seja um antecedente disto que está acontecendo hoje”. Foi a primeira pergunta de uma longa entrevista. Registra-se a angústia que as manifestações de 2013 causaram nos anos seguintes, a forte suspeita que tudo foi obra de uma manipulação que dirigiu manifestantes desprevenidos. Apesar da alta ansiedade do instante político, Dilma manteve-se serena, sem negar, contudo, que toda a inquietação dos protestos tenha sido lida e apropriada pela direita. O significado de junho 2013 constitui um debate que ainda não terminou, contando com uma bibliografia já significativa e também documentário para o cinema . Apesar da obra aberta que ainda é, junho de 2013 deu forma a uma linha divisória, a uma referência

Em tempos de distanciamento social, à procura de Paulo Freire

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Para o projeto de escrita Paulo Freire e outras conversas da quarentena para um mundo pós-pandemia , em três artigos precedentes procurei discutir como o legado de Paulo Freire poderia nos ajudar a pensar os rumos da educação brasileira desde a pandemia da Covid-19: Para ser um ser no mundo , Educação em emergência epidemiológica: Um olhar através de três conceitos de Paulo Freire   e Facilitador/a x coordenador/a de debates: Qual o lugar do/a professor/a durante pandemia da Covid-19 . Prossigo agora com essa busca na obra de Paulo Freire apresentando [*] a abordagem que tenho adotado para me dedicar à totalidade da sua obra, organizando a minha leitura. Uma pergunta preliminar: Ainda faz sentido ler Paulo Freire, diante de tantas críticas que recebe? Para responder, é necessário qualificar essas críticas, ou seja, distinguir aquelas que são críticas em um sentido válido e aquelas que são basicamente perseguição política e intelectual. Desde as manifestações pedindo o impeachment de

Milton Ribeiro, novo ministro da guerra cultural bolsonarista

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  Após a saída de Abraham Weintraub e a fracassada nomeação de Carlos Alberto Decotelli da Silva, Milton Ribeiro foi anunciado, no dia 10 de julho, como o novo ministro da educação. Logo depois contraiu Covid-19 e quando já parecia esquecido, Milton Ribeiro concedeu uma entrevista publicada no dia 24 de setembro no jornal O Estado de S. Paulo , que repercutiu amplamente e marca propriamente o início do seu desempenho público no governo Bolsonaro. Milton Ribeiro é pastor presbiteriano, doutor em Educação e ex-vice-reitor da Universidade Mackenzie. Pode agora juntar à sua biografia a identidade de integrante da ala mais ideológica do governo que serve. O que é pertencer a ala ideológica do governo Bolsonaro? Todas as adesões são ideológicas, certamente. No entanto, existem algumas presenças no governo que parecem mais representativas sobre o significado populista de direita de Bolsonaro, mais ativos nas guerras culturais  que hoje mobilizam a vida política em tantos países, inclusive n

Duas lições de Paulo Freire sobre o distanciamento social

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  Texto escrito para a minha participação na mesa Os desafios à universidade pública pela emergência social , na VII Live Administração Pública/UFF, em 9 setembro de 2020. A emergência epidemiológica nos pegou relativamente desprevenidos. Relativamente porque não faltaram avisos sobre pandemias à espreita. São as mesmas vozes, de cientistas que estudam as condições ecológicas, suas transformações humanas e perigosos impactos, que já advertem que outras pandemias virão, enquanto nem sabemos ao certo para aonde estamos indo com a Covid-19. Para estudantes e todos que trabalham com o ensino, a pandemia apanhou em cheio. Desde março, a educação institucional acontece remotamente. Ou não acontece, uma vez que requer condições e formação. A indiferença e o improviso estão produzindo um resultado trágico para a educação da maioria popular. Quanto ao retorno às aulas presenciais, tal como ocorriam antes da pandemia, não há um calendário possível de ser feito agora. Não há tratamento nem va

Facilitador/a ou coordenador/a de debates: Qual o lugar do/a professor/a durante a pandemia da Covid-19?

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Na imagem, o Círculo de Cultura na ilustração que Francisco Brennand fez para as fichas de cultura do Método Paulo Freire. Enquanto seguimos com números elevados de contágio e óbitos, agora, nos primeiros dias de setembro, o retorno às aulas presenciais ainda está em suspensão, em praticamente todo o país. Com resultados desiguais, o chamado ensino remoto foi introduzido em diferentes graus de ensino e realidades educacionais. Entre as universidades públicas, a maioria optou por discutir em que condições poderia ser utilizado. Muitas vozes se opuseram à sua adoção. Na minha universidade, a UFRRJ, vamos seguir com o Ensino Continuado Emergencial. A discussão permanece. Aula on-line é aula? Ensino remoto é educação? Educação on-line é EaD piorada? Existe ensino remoto em um sentido válido?  O ensino remoto em todo país é uma realidade diversa. As grandes redes públicas são as mais vulneráveis em condições para realizá-lo e impossível até em muitos casos. Mas empresas que trabalham com

Esse vírus está discriminando a humanidade

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Em O amanhã não está à venda, Ailton Krenak conta-nos que alguns engenheiros pediram a sua opinião sobre o uso de tecnologia para recuperar o Rio Doce, que fica na região que foi afetada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos, operada pela mineradora Samarco, na cidade de Mariana/MG, em 2015. Em resposta, ele propôs parar todas as atividades humanas que recaem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros das duas margens, até que o rio voltasse a ter vida. Um dos engenheiros respondeu que isso seria impossível. À negativa desta interrupção, e outras, no entanto, a pandemia respondeu com a suspensão das nossas vidas. “O mundo não pode parar. E o mundo parou”, diz Ailton Krenak. O amanhã não está à venda é um breve texto editado a partir de entrevistas que Ailton Krenak concedeu desde março de 2020, quando a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil. Publicação que é a nossa conversa agora, e sexto artigo que escrevo para a série Educação e outras conversas da quarentena para um mundo