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Uma recordação escolar com uma turma da 6ª série e Mano Brown

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                 Extrato do Memorial que estou escrevendo para a minha promoção a Professor Titular da UFRRJ.   Vou contar uma história que reproduzi apenas parcialmente na minha tese (BERINO, 2007, p. 13) porque, de modo até impensável, somente muitos anos depois ela teve o seu fim. Em 1997, quatro anos após ter começado a lecionar na rede municipal do Rio de Janeiro, eu já vivia muitas dúvidas sobre o meu ensino como professor de História na escola pública. Percebia que meus alunos e alunas não demostravam muito interesse pelas aulas. Sentia uma frustração, mas também uma inquietação propícia à experimentação pedagógica. Curiosamente, estava lotado em uma escola, a E. M. Ministro Orosimbo Nonato, que é próxima à minha residência atual. Na época, ao terminar a minha jornada de trabalho, seguia para o ponto de ônibus na rua em que moro hoje, em Del Castilho. A escola fica em Heliópolis, um bairro adjacente. Só agora, quando desperto algumas recordações, é que percebo que o destino já

Publicação do meu livro Centenário de Paulo Freire e outras conversas da pandemia

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I ntrodução Acredito que em razão da minha graduação em História, quando aprendi a perceber melhor o significado do tempo, sempre inicio meus cursos sobre Paulo Freire observando que ele foi contemporâneo de todos os acontecimentos marcantes do século XX, no Brasil e no mundo. Nasceu em 1921, três anos apenas após à I Guerra Mundial, e um ano antes da Semana de Arte Moderna, quando foi também fundado o Partido Comunista, seção Brasileira da Internacional Comunista. Teve a sua vida absolutamente transformada pelo exílio, depois de atingido por um dos episódios mais destacados da história do Brasil, o golpe civil-militar de 1964. Faleceu em 1997, quando o período da Guerra Fria já havia se encerrado e o Muro de Berlim não existia mais. No final do século, a arte já era chamada de pós-moderna. Paulo Freire foi, portanto, inteiramente um personagem do século XX. No ano de 2012, foi declarado patrono da educação brasileira, um reconhecimento pelo seu legado e sentida atualidade. Contudo,

Carolina Maria de Jesus, uma vida filosófica

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Lendo Paulo Freire, mais do que nunca: Uma biografia filosófica [1] , me ocorreu de pensar se Carolina Maria de Jesus não viveu uma “vida filosófica” também, do mesmo modo que Walter Kohan (2019, p. 73) propõe para Paulo Freire. A contrapelo das conhecidas tentativas de situar a filosofia em Paulo Freire a partir das influências que recebeu das correntes de pensamento que o precederam, Walter Kohan faz um giro e propõe outro olhar, que não é propriamente o de identificar a conexão conceitual entre autores.  Walter Kohan nos faz ver como Paulo Freire se associa a outras duas tradições, particularmente voltadas para o problema da imanência da vida na filosofia. A primeira delas é a representada por Marx, sobretudo, nas Teses sobre Feuerbach. A segunda está no Foucault tardio de A coragem da verdade. A questão, então, não é o da conformidade teórica com esses autores, mas como neles existia uma preocupação com a própria vida – a vida como problema filosófico – que Paulo Freire se ocupou

Deverá ser de outro jeito

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  “Definitivamente, eu não estou a fim de pagar essa conta:  para mim não vale o conserto". Ailton Krenak (2020, p. 68) Depois de uma suspensão forçada, já estamos liberados para atualizar nossa produção acadêmica no Currículo Lattes. A “instabilidade dos sistemas”, ocorrida nos últimos dias do mês julho de 2021, foi corrigida. Verdadeiramente, apenas parcialmente. Começo a escrever agora, no dia 14 de agosto, e o acesso ao Diretório dos Grupos de Pesquisa no CNPq continua frustrado. [1] Outras atualizações vão se acumulando até o retorno à normalidade também. A sério, são inúmeros retornos à normalidade que aguardamos. A mais grave das expectativas permanece incerta. Quando a pandemia terá terminado? O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou quatro dias de festas, já em setembro , para “celebrar a vida”. Será? Usar máscaras na pandemia é um cuidado que muitos preferiram ignorar, favorecendo o contágio e espalhamento do vírus. O estado de emergência epi

A conclusão faltante

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    No dia 16 de julho de 2021 contávamos 540 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Na minha cidade, Rio de Janeiro, já existe um cronograma de vacinação que incluirá adolescentes de até 12 anos em setembro. Em novembro toda a população até essa idade terá terminado o esquema vacinal completo (até duas doses) e em dezembro pessoas com mais de 60 anos já estariam recebendo a dose de reforço. Apesar dos números assustadores alcançados pela pandemia no país, parece que até o final do ano a imunização termina e a pandemia poderá atingir o seu fim ou pelo menos estará controlada em números estatisticamente assimiláveis diante do que ocorreu em termos de colapso hospitalar e óbitos até aqui. Mesmo assim, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis advertiu, em um artigo publicado no dia 18 de julho no jornal Correio Brasiliense , que a pandemia está longe de acabar . Nicolelis preocupa-se com a transmissibilidade do vírus da chamada variante Delta  e o maior relaxamento das medidas de controle

Educar com a mídia na pandemia?

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Educar com a mídia: novos diálogos sobre educação , publicado em 1984, é um dos “livros falados” do Paulo Freire com Sérgio Guimarães. Originalmente, o livro foi publicado com o título Sobre educação: diálogos II . A mudança do título ocorre na edição de 2011, quando a questão dos usos dos meios de comunicação na educação já havia adquirido uma visibilidade maior e agora, quase 40 anos após a sua primeira publicação, constitui um tema incontornável, durante a pandemia. O novo nome da obra praticamente atualiza seu conteúdo, talvez já esquecido pelo tempo. O fato é que as tecnologias estão ainda mais desenvolvidas para usos educacionais e os conceitos também, mais associados às tecnologias digitais. Lá se vão cem anos do nascimento de Paulo Freire, que acontece em meio a uma pandemia viral. Estamos a perguntar na data comemorativa: Paulo Freire teria alguma coisa a nos dizer, de mais específico, sobre os desafios da educação popular e a da comunicação durante pandemia da Covid-19? [1]