O Mágico



Nos espetáculos, artistas populares acariciam nossas vidas. No entanto, o gosto muda e o artista pode experimentar o abandono do público e o esquecimento da sociedade.

Nem sempre cuidados de quem tantas vezes animou nossa existência. E ainda assim, um artista poderá continuar sua arte de animar vidas.

O ano é 1959. Estamos em Paris. Ilusionista se apresenta diante de uma plateia nada empolgada com o seu número. Em uma viagem para Londres, o protagonista da história precisa, sem sucesso, dividir a atenção do público com músicos de rock n roll.

Há um êxtase entre os novos artistas e seu público que o ilusionista não consegue atingir. Não há nada que possa tirar da sua cartola, além do coelho. Parte para outra cidade. Ele continuará tentando.

Em lugar mais modesto e aparentemente tradicional, lá também o rock n roll alcança, estridente, envolvente. Viagens que mostram a articulação de um gosto comum cada vez mais difícil de ser enfrentado por artistas tradicionais. 

O ilusionista está envelhecido pelo tempo e pela cultura juvenil em ascensão. Precisa de um lugar no mundo. É quando conhece uma garota que resolve acompanhá-lo. A viagem e a busca continuam. Seguem para Edimburgo, na Escócia.

Nas ruas, a vitrine das lojas mostram produtos e exibem os novos tempos. Em uma delas está a televisão. A menina demonstra interesse pelo consumo de artigos da moda. Deseja estar em sintonia com a sua época.

Para o ilusionista, tudo parece já ter passado do tempo. Procura agradar a garota com presentes, mas para isso precisará também de outros empregos, realizando tarefas que não conhece a maestria. Ele é um mágico.

A vida é amarga para todos os artistas dos shows tradicionais. O palhaço pensa no suicídio. O ventríloquo desfaz-se do seu boneco e vira alcoólatra. A narrativa da animação desenvolve uma penetrante crítica às condições de vida sob o processo de modernização capitalista.

Se o ilusionista não encontra mais possibilidades razoáveis para o seu desempenho profissional, a arte publicitária encontrará um uso para ele. Uma vitrine será seu palco. Ali, de forma exótica, apresentará artigos femininos para quem for atraído pelo teatro das mercadorias.

A menina, com toda a atenção que recebeu do seu amigo ilusionista, agora é uma moça atraente, que inicia um namoro com jovem estudante. Antes de partir, o ilusionista deixará uma mensagem para ela: “mágicos não existem”.

O ilusionista está em um trem. Continuará seu caminho: a ausência de um destino. Na cidade, é noite. As luzes se apagam nas vitrines. O que reluz, nos novos tempos, não permanece. Tudo é passageiro e tem sua duração, entre o consumo e outra novidade.  


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O mágico foi realizado a partir de um roteiro inédito do cineasta francês Jacques Tati (1907 – 1982). Na animação, em uma cena, dentro de um cinema, o ilusionista vai se deparar com um filme em que Jacques Tati dirige e atua. Então, será possível perceber a semelhança entre os dois. O tipo do protagonista na animação foi desenvolvido à imagem de Jacques Tati. O nome Tati aparecerá também nos cartazes do ilusionista. É o seu nome.

Na animação, assim como nos filmes de Jacques Tati, os diálogos são mínimos. Em O mágico  isso conduz a uma maior exploração da narrativa presente nas próprias imagens.

Entre outros prêmios, recebeu o César de 2011, na categoria Melhor Filme de Animação.


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Título Original: L’illusionniste – The Illusionist
Direção: Sylvain Chomet
País: França – Reino Unido
Ano: 2010

Classificação indicativa: 12 anos



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