Kiriku e a Feiticeira




O cinema de animação sempre conduziu nosso olhar para formas e cores imaginárias. Um mundo bem diferente do nosso cotidiano é desenhado e nele projetamos também nossas fantasias. A animação é criação do artista e cenário encantador para as nossas fábulas.

Adoráveis as animações que podem apresentar mundos mágicos e ainda sondar nossas próprias ficções, muitas vezes surpreendentes. A trama do desejo só aparece no final da história, quando segredos são revelados, às vezes na direção contrária do que parecia esperado.

Em uma aldeia na África, Kiriku nasce como uma criança incomum. Nasce sozinha e falando. Seus familiares e vizinhos estão assustados com Karabá, a feiticeira. Ela é má. Comeu os homens adultos que tentaram enfrentá-la. Kiriku vai também ao seu encontro.

Kiriku está com seu tio, que inicialmente resiste em contar com a companhia da pequena criança. Depois de enganar a feiticeira no primeiro encontro, Kiriku pergunta para o tio o motivo de Karabá ser má. Sua pergunta é ignorada, mas permanecerá como uma questão a ser elucidada.

Criança repleta de capacidades especiais, para Kiriku não basta vencer a feiticeira. Na luta leva consigo um mistério a ser solucionado, a propósito dos motivos de quem faz o mal para a sua aldeia. Em um segundo encontro com Karabá, Kiriku pergunta para ela também o motivo de ser má.

Karabá, apesar da fúria diante do questionamento, diz que uma criança não lhe interessa. Promete esperar pelo seu crescimento para também ser comido por ela. Kiriku continuará provocando, protegendo sua aldeia, enquanto a feiticeira vê aumentar sua ira.

Diante da permanente pergunta de seu filho, a mãe de Kiriku revela que apenas seu avô, o sábio da Montanha Proibida, poderia responder sobre o motivo de Karabá ser má. Depois de vencer desafios e provar seu merecimento, Kiriku consegue encontrar seu avô.

O motivo é, então, descoberto. Mais do que isso. O que explica sua maldade, também lhe atribui poderes. A aventura de Kiriku fica agora mais complexa. É preciso vencer Karabá, mas também livrá-la de um mal. Um caminho que se percorre com perguntas persegue um objetivo que se transforma também.

“Não dói mais”, diz, enfim, Karabá, depois de Kiriku conseguir supreendê-la, desarmando seus poderes. Ela também está livre. Kiriku fará, contudo, um surpreendente pedido. “Case-se comigo”. A impaciente criança pede um beijo nos lábios e uma transformação ocorrerá.

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Kiriku e a feiticeira poderá ser visto como um desenho-filosófico. O protagonista Kiriku percorre uma ação sempre acompanhado de um questionamento fundamental. Vive aventuras, mas sempre questionando o que está na origem da sua própria necessidade de vencer a feiticeira.

Não se trata apenas de vencer um confronto, mas saber por que ele existe. Conduta que mudará o destino da sua aldeia, transformando, na verdade, todos os personagens envolvidos. Trata-se de uma aventura onde não se sabe o fim. Ao longo da história, desejos são tecidos e objetivos alterados.

A animação é baseada em história africana. Para o regime das imagens comumente projetadas pelo cinema e pela TV, o filme nos apresenta também novos motivos de admiração e prazer para os olhos. A música de Youssou N’Dour é uma valiosa aliada das imagens.

O filme venceu o Grande Prêmio em Annecy (Festival International Du Film d’Animation) no ano de 1999.


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Título Original: Kirikou et la Sorcière 
Direção: Michel Ocelot
País: França
Ano: 1998

Classificação indicativa: Livre



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