Retratos da sala de aula



Pesquisas no campo da educação podem ser realizadas através de variados métodos e condutas. Pensar a experiência educacional não tem confinamento intelectual, ao contrário da realidade que parece eterna para tantas crianças e jovens nas escolas, presas a carteiras, a muros e à própria “sala de aula”.

Contudo, também fixados a uma herança universitária e científica que valoriza a palavra escrita e verbal como referência documental para investigar concepções e práticas da educação, salvo como uso ilustrativo ou de “memória”, não encontramos significativa curiosidade dos pesquisadores pelas imagens.

Classroom portraits 2004-2012, álbum de fotografias publicado por Julian Germain em 2012 pela editora Prestel, pode ser visto como um convite à aventura de ultrapassar convenções acadêmicas e produzir novos saberes através de outros olhares, mirando retratos da sala de aula de muitos países.

O livro reúne poses fotográficas feitas pelo autor que nos oferecem uma imagem múltipla desse espaço escolar tão privilegiado, para o bem e para o mal. Local regular e institucionalizado para o encontro entre professores e alunos, as salas de aula revelam uma tensa identidade.




Todas as imagens são de salas de aula – existem algumas poucas imagens de espaços esportivos, laboratórios ou bibliotecas, onde também acontecem aulas. Em todas as imagens os estudantes estão olhando para a câmera, produzindo o efeito de nos observarem também, enquanto sondamos suas presenças nos lugares.

Então, o que olhamos e o que nos olha? Olhar a sala de aula e seus personagens faz parte do cotidiano dos professores. Hábitos e aparente repetição de situações nos educam a enxergar sempre as mesmas coisas. Mas uma coleção de imagens variadas provoca desvios quando pesquisa novos pontos de admiração para o olhar.

É o que acontece quando percorremos o livro. Cores, formas, objetos, distribuições, arranjos, gestos. arquiteturas, harmonias e contrastes proporcionam a experiência de aproximações e colisões ao examinarmos cada fotografia. Agitam nossas representações, interpelando esse hábito de reparar sempre o comum.

O olhar dos fotografados nos alcança quando nos aproximamos dos seus corpos, especulando sobre suas vidas e as relações com o lugar - a sala de aula. E assim é produzida uma indagação a respeito do que somos capazes de ver, comovidos diante das "mesmas" cenas multiplicadas.




O provocante resultado é a dúvida sobre o que existe de singular não apenas no que está distante, mas também naquilo que é próximo. E também, uma dúvida sobre a suposta alteridade da diferença, quando pontos de identificação são percebidos como luzes, ali onde não esperávamos encontrar nada reluzente.

Observando bem os usos dos espaços, como paredes, percebemos que algumas são mais limpas e outras saturadas de sinais do trabalho escolar. O que é possível dizer sobre esses lugares? Como a presença de um objeto - um relógio na parede, por exemplo - pode nos incitar a realizar análises com a nossa visão?

Não prestamos muita atenção ao cotidiano escolar, senão em episódios ou pessoas que nos atingem especialmente de acordo com a nossa dedicação educada. Mas o olhar de quem nos vê é sempre mais abrangente do que o nosso. Participam de uma rede de visão. Nossos olhos, contudo, podem dilatar o campo da percepção se aumentamos também nosso interesse pelas próprias imagens. Os alunos estão esperando.

Julian Germain mantém um site com informações diversas a respeito de publicações e projetos. As imagens que exibi aqui foram extraídas desse site. Existem trinta fotografias de Classroom potraits 2004-2012 que podem ser vistas nele: http://www.juliangermain.com/projects/classrooms21.php






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