Professora sem classe
Para os que se
apaixonaram pelo caráter do professor Mark Thackeray (Sidney Poitier, em Ao Mestre com Carinho, 1967), o que
dizer da professora Elizabeth Halsey? Quando conta para uma colega sobre o que
acreditava serem os motivos certos para começar a lecionar, ela diz: “poucas
horas, férias no verão, autonomia”.
Halsey é uma
professora “toda errada”. O filme é um mostruário pedagógico às avessas, nele
existem incontáveis cenas que mostram o que uma professora nunca deve fazer, na
sala de aula ou fora dela. E mais, Cameron Diaz interpretando uma professora que
deseja um “bom casamento”, enquanto um colega sem atributos se apaixona por
ela, parece projetar apenas mais um filme ruim, com os clichês gastos e já
conhecidos pelo público.
Pode ser. O que estaria fazendo Cameron Diaz em um
“filme de professores” senão um filme ruim? Mas eu realmente não sei. Para a
História do Cinema Beader Teacher poderá
ser um filme esquecível, ou até inexistente, mas para os seus colegas não
virtuais de profissão, Halsey é um tipo bem interessante. Um tipo bem
interessante de professora, é o que quero dizer.
Professor
Thackeray deixou uma legião de fãs exibindo sua obstinação em realizar um bom
trabalho e poder influenciar seus alunos. Halsey está obstinada em conseguir
uma plástica para os seios, tornando-se mais sedutora para os homens que
poderiam interessá-la. Mas acredito que
professoras e professores já estão mesmo cansados de prescrições sobre deveres,
práticas e comportamentos.
Halsey
realmente não é mole não. Em uma cena está puxando fumo em um carro, quando é
abordada por uma aluna. Em outra resolve chapar no ginásio esportivo da escola
com um colega - o tal que fica apaixonado por ela. Oferece para outra colega:
“prova, porra”. E como professora não gosta de lecionar. Ela passa filmes para
passar o tempo. E sem qualquer didática. É só passar o filme mesmo, todo dia.
Curiosamente, Professora sem classe começa no mesmo ponto em que termina Ao mestre com carinho: um retorno imprevisto à escola. Thackeray finalmente recebe a resposta a um emprego esperado, de engenheiro. Decide, contudo, voltar a lecionar. Halsey pretende deixar a escola para um casamento “bem sucedido”. Mas seu noivo rompe e ela, então, “decide” continuar no magistério.
Uma colega
rival tem várias sugestões pedagógicas, mas Halsey não está nem aí. Ela mete o
pé na tábua da salvação escolar. Em uma atividade para levantar fundos para uma
excursão, desvia dinheiro. Para arrancar dinheiro dos pais, se oferece como explicadora
para os próprios alunos da sua classe. Precisa de dinheiro para a sua campanha:
“peitos novos”.
A “baixaria”
da professora Halsey atinge o clímax quando frauda o exame estadual para obter
resultados que poderia traduzir em um prêmio em dinheiro. Sem qualquer pudor
Halsey engana (mente, seduz e entorpece) o profissional que possuí a prova que
será aplicada e assim consegue preparar a turma para um destacado
resultado.
Sobre o exame,
ela diz antes: “todos sabemos que estes exames são ridículos”. Halsey, a contrapelo dos personagens que em
outros filmes apresentam uma visão crítica mas alternativa da escola e da
educação, não tem propósito pedagógico. Contudo, é exatamente aí, na falta
aparente de uma expressão educativa que nos encante, que o filme vai realizar
suas imagens conflitivas com as esperanças que ainda nos restam da escola.
O
comportamento de Halsey não deixa margem alguma para uma (re)apropriação da
instituição escolar como uma crença válida na atualidade. E é clara sua insurgência.
O espaço escolar foi ocupado por práticas e discursos mantidos através de uma
assimilação que ela tripudia. Halsey dá as costas para tudo que nas escolas as
pessoas ainda levam a sério.
Notável que os desvios de Halsey não acontecem em razão dos alunos. Eles não incomodam, quando essa se constitui a reclamação corrente de tantos professores a respeito da vida nas escolas. Não é uma professora desesperada com o comportamento dos alunos. Ela não deseja melhorar ninguém, mas debocha das fantasias educativas.
Notável que os desvios de Halsey não acontecem em razão dos alunos. Eles não incomodam, quando essa se constitui a reclamação corrente de tantos professores a respeito da vida nas escolas. Não é uma professora desesperada com o comportamento dos alunos. Ela não deseja melhorar ninguém, mas debocha das fantasias educativas.
O filme começa
com uma séria de imagens de salas de aula, extraídas de outras produções. Elas
servem para nos mostrar essa preocupação recorrente com o que se passa na
escola. Cotidiano para crianças e jovens, preocupação para adultos e
responsáveis, relação que o cinema frequentemente traduz em imagens edificantes.
Mas e os professores com isso?
Fuck the good teachers!
*
Título Original: Beader Teacher
Direção: Jake Kasdan
País: USA
Ano: 2011
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Jake Kasdan
País: USA
Ano: 2011
Classificação indicativa: 14 anos
We don't need no education... uma possibilidade...
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