Carregadoras de Sonhos
Carregadoras de Sonhos, dirigido por Deivison Fiuza, é um filme
excepcional, por mais de um motivo. Com quase 70´, é praticamente um
documentário longa metragem protagonizado
por quatro professoras, tema bastante incomum na produção do audiovisual
nacional. A produção do filme é de um sindicato, o SINTESE – Sindicato dos
Trabalhadores em Educação Básica de Sergipe. Não conheço nenhuma outra
iniciativa parecida de sindicato de profissionais da educação. Como obra
artística, é um filme bastante interessante também.
Conheci o filme através de uma
cópia em DVD distribuída em uma embalagem compacta que foi encartada como
brinde em uma edição da Revista Fórum.
Atualmente, o filme pode ser encontrado no YouTube também. O adicional
da cópia em DVD são os extras do filme. Os frames
que vou mostrar aqui foram extraídos da reprodução do filme no YouTube.
O filme é construído mostrando a
difícil jornada diária das professoras Edielma, Marta, Maraisa e Rose. Não
apenas a jornada de trabalho, mas a realidade integral do tempo ao longo do dia
para que realizem sua atividade no magistério. O tempo gasto no deslocamento
até o trabalho mais a possibilidade de precisar dormir na localidade em que
exercem seu emprego. As condições em que acontece, adversas para qualquer
trabalhador, pior ainda para as mulheres, em razão da maior vulnerabilidade a que
estão expostas. E entre elas, muitas são mães.
Através da vida de quatro
professoras, toda uma categoria profissional que leciona nas grandes redes da
escola pública, nas séries iniciais, é apresentada diante de muitas das suas dificuldades.
Frequentemente trabalhando em duas escolas distantes, nem sempre é possível
fazer sequer as refeições adequadamente. As condições para o trabalho são
precárias e até inacreditáveis. Os próprios alunos vivem suas privações. Para
as personagens do filme e muitas outras professoras, o magistério é um trabalho
sitiado pela ansiedade e a aflição.
Filme produzido por um sindicato,
há uma preocupação em Carregadoras de
Sonhos de mostrar tanto a dignidade do trabalho como os obstáculos e até os
infortúnios que tantas professoras vivem em razão da falta de decisão política em
favor magistério e da própria escola pública. O filme é um retrato contundente
da educação brasileira, mas não é um retrato amargo. Há no filme uma certa
poesia.
Compromissado com uma concepção
de educação que beneficie as classes populares e os professores, Carregadoras de Sonhos tece com beleza
a responsabilidade social do ensino e todos os personagens que participam da
vida nas escolas. Na narrativa visual e nos depoimentos, quase sempre
comoventes e angustiantes, há também a presença da diligência e da esperança,
não a propósito de um tempo que nunca alcançamos, mas como uma imagem da
resistência cotidiana e da luta contínua, que não se esgota e ainda resplandece.
A palavra sonho está no título
porque é uma palavra e uma prática das professoras personagens do filme. Ao
conversar com a mãe, diz uma delas: “Sabe qual é o meu maior sonho? É a de ver
uma daquelas crianças na faculdade”. Outra irá dizer: “É através do professor
que a criança cresce, é através do professor que a criança pode sonhar”. Então,
apesar de tudo, estamos lidando, na educação, através da vitalidade do
magistério, com as prometedoras ambições: Que a vida se alargue, que o existir
se dilate.
Embora Carregadoras de Sonhos principie com um texto que diz “este filme
não é uma obra de ficção. As histórias e os personagens são reais”, há uma
criação relativamente ficcional no filme com um resultado bastante
interessante. Em alguns momentos as professoras estão diante da câmera como a
gravação tradicional de um depoimento. No entanto, a narrativa é construída
principalmente de outro modo. Como personagens, as professoras, na verdade,
encenam como performances seus cotidianos. Mais do que suas supostas rotinas, é
assim que sabemos sobre seus sonhos.
O cinema é em si mesmo carregador de sonhos. O sonho é algo
difícil de capturar porque
apenas vislumbramos sua
existência entre luzes e sombras. Formidável que um sindicato de trabalhadores
em educação tenha idealizado um filme, uma mídia tão expressiva que só vive
entre-lugares. O cinema é um desfronteiramento da sala de aula, coisa de professores
que sonham.
*
Título: Carregadoras de Sonhos
Direção: Deivison Fiuza
País: Brasil
Ano: 2010
Filme completo
chorei com esse filme sabendo que um dia eu já vivi essa realidade!
ResponderExcluirsó que mais leve, ótimo filme aconselho aos educadores assistir esse filme
Um filme emocionante.
ResponderExcluirPorém busquei aqui informações sobre o planejamento da Seduc Sergipe em 2009 na época o governador Marcelo Déda.
O cenário que estava sendo colirido sobre a educação segundo o governo daquela época era outro.
Senti falta no filme informações sobre as localidades a quais o tema está sendo proposto no filme.
Outra coisa que me impactou é que naquele período o governo federal era o Lula.
E o ministro da educação o Haddad.