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A IA diante do universo temático da nossa época

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  E agora, o que dizer sobre a utilização da IA generativa na educação? Há uma intensa propaganda que prega a IA generativa como uma tecnologia digital disruptiva capaz de transformar qualitativamente as práticas pedagógicas. No entanto, há também quem desconfie do seu uso, imaginando que o sentido caracteristicamente humano da educação está ameaçado, correndo o risco do próprio desaparecimento da atividade autêntica do ensino. Apesar do impacto que significou a notícia da IA generativa disponível em modelos como o ChatGPT, não se trata realmente de um entusiasmo original, tampouco de uma inquietação desconhecida. Desde o nosso ingresso na cibercultura somos desafiados a concluir sobre o que pensamos em relação às tecnologias digitais e o seu lugar na educação. Uma vez que estamos reunidos para uma conversa sobre a IA Paulo Freire [1] , parece oportuno recordar algumas das suas ideias para aprofundar o diálogo. Gostaria de me deter especialmente em duas questões desenvolvidas por...

A estética no pensamento de Paulo Freire

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Qual a importância da estética no pensamento educacional de Paulo Freire? [1] Apesar de ser uma questão pouco lembrada quando falamos de Paulo Freire, a estética está completamente integrada ao seu pensamento educacional. Em Pedagogia da autonomia (1996), por exemplo, Paulo Freire refere-se à prática de ensinar-aprender como uma experiência total, composta de diferentes elementos, como a política, a pedagogia, a ética e a estética também.  Em Cartas à Guiné-Bissau (1977), Paulo Freire diz que o educador é um político e um artista. Ainda como jovem professor, nos primeiros anos da década de 1940, conta Paulo Freire, ele já se dedicava, em seus estudos sobre gramática, ao que ele chamava de momento estético da linguagem. O fato é que a questão da estética e a concepção da educação como arte estão presentes na sua obra porque para Paulo Freire, educar de modo crítico é um ato de criação, problema que ele amadureceu ao longo da trajetória como educador e autor em inúmeras publicaçõe...

Madonna featuring Paulo Freire

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O ano é 2024. Paulo Freire é visto em um show da Madonna na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.  Um registro icônico que foi parar no Instagram, viralizando. Ao lado de outras personalidades também em destaque, a imagem de Paulo Freire pareceu política e corretamente ali incluída no show de uma artista tantas vezes vista como disruptiva. No entanto, uma aparição que não deixou de provocar algumas perguntas sobre o motivo da lembrança. Foi uma inclusão legítima ou apenas comercial, em um show contratado por milhões de dólares? Não pretendo discutir aqui a autenticidade de Madonna ou dos seus fãs. Se morasse em Copacabana, ou mesmo próximo ao bairro, acredito que eu teria me animado em assistir no local toda a grandiosidade do evento. Desse modo, não tenho interesse algum em julgar a artista ou seu público. Ainda assim, como pesquisador da obra do Paulo Freire, gostaria de discutir algo que me parece importante hoje, quando tentamos compreender como as redes sociais estão atuan...

Uma recordação escolar com uma turma da 6ª série e Mano Brown

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                 Extrato do Memorial que estou escrevendo para a minha promoção a Professor Titular da UFRRJ.   Vou contar uma história que reproduzi apenas parcialmente na minha tese (BERINO, 2007, p. 13) porque, de modo até impensável, somente muitos anos depois ela teve o seu fim. Em 1997, quatro anos após ter começado a lecionar na rede municipal do Rio de Janeiro, eu já vivia muitas dúvidas sobre o meu ensino como professor de História na escola pública. Percebia que meus alunos e alunas não demostravam muito interesse pelas aulas. Sentia uma frustração, mas também uma inquietação propícia à experimentação pedagógica. Curiosamente, estava lotado em uma escola, a E. M. Ministro Orosimbo Nonato, que é próxima à minha residência atual. Na época, ao terminar a minha jornada de trabalho, seguia para o ponto de ônibus na rua em que moro hoje, em Del Castilho. A escola fica em Heliópolis, um bairro adjacente. Só agora, quando desper...

Publicação do meu livro Centenário de Paulo Freire e outras conversas da pandemia

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I ntrodução Acredito que em razão da minha graduação em História, quando aprendi a perceber melhor o significado do tempo, sempre inicio meus cursos sobre Paulo Freire observando que ele foi contemporâneo de todos os acontecimentos marcantes do século XX, no Brasil e no mundo. Nasceu em 1921, três anos apenas após à I Guerra Mundial, e um ano antes da Semana de Arte Moderna, quando foi também fundado o Partido Comunista, seção Brasileira da Internacional Comunista. Teve a sua vida absolutamente transformada pelo exílio, depois de atingido por um dos episódios mais destacados da história do Brasil, o golpe civil-militar de 1964. Faleceu em 1997, quando o período da Guerra Fria já havia se encerrado e o Muro de Berlim não existia mais. No final do século, a arte já era chamada de pós-moderna. Paulo Freire foi, portanto, inteiramente um personagem do século XX. No ano de 2012, foi declarado patrono da educação brasileira, um reconhecimento pelo seu legado e sentida atualidade. Contudo, ...

Carolina Maria de Jesus, uma vida filosófica

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Lendo Paulo Freire, mais do que nunca: Uma biografia filosófica [1] , me ocorreu de pensar se Carolina Maria de Jesus não viveu uma “vida filosófica” também, do mesmo modo que Walter Kohan (2019, p. 73) propõe para Paulo Freire. A contrapelo das conhecidas tentativas de situar a filosofia em Paulo Freire a partir das influências que recebeu das correntes de pensamento que o precederam, Walter Kohan faz um giro e propõe outro olhar, que não é propriamente o de identificar a conexão conceitual entre autores.  Walter Kohan nos faz ver como Paulo Freire se associa a outras duas tradições, particularmente voltadas para o problema da imanência da vida na filosofia. A primeira delas é a representada por Marx, sobretudo, nas Teses sobre Feuerbach. A segunda está no Foucault tardio de A coragem da verdade. A questão, então, não é o da conformidade teórica com esses autores, mas como neles existia uma preocupação com a própria vida – a vida como problema filosófico – que Paulo Freire se oc...

Deverá ser de outro jeito

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  “Definitivamente, eu não estou a fim de pagar essa conta:  para mim não vale o conserto". Ailton Krenak (2020, p. 68) Depois de uma suspensão forçada, já estamos liberados para atualizar nossa produção acadêmica no Currículo Lattes. A “instabilidade dos sistemas”, ocorrida nos últimos dias do mês julho de 2021, foi corrigida. Verdadeiramente, apenas parcialmente. Começo a escrever agora, no dia 14 de agosto, e o acesso ao Diretório dos Grupos de Pesquisa no CNPq continua frustrado. [1] Outras atualizações vão se acumulando até o retorno à normalidade também. A sério, são inúmeros retornos à normalidade que aguardamos. A mais grave das expectativas permanece incerta. Quando a pandemia terá terminado? O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou quatro dias de festas, já em setembro , para “celebrar a vida”. Será? Usar máscaras na pandemia é um cuidado que muitos preferiram ignorar, favorecendo o contágio e espalhamento do vírus. O estado de emergência...